Nós, médicos infectologistas envolvidos no combate a pandemia de covid-19, em apoio a políticas públicas e na pesquisa voltada à prevenção, controle e manejo clínico da covid-19, manifestamos nossa extrema preocupação com a flexibilização das medidas de prevenção a covid-19 no Estado de São Paulo, como a não exigência da utilização de máscaras em ambientes coletivos abertos, divulgadas amplamente nas mídias sociais.
Sabemos que, em ambientes abertos, sem aglomeração, o risco de transmissão do SARS-CoV-2 é muito baixo. Porém, essa classificação é difícil: como levar uma mensagem adequada para a população de colocar máscara na fila da lanchonete do parque? E no mesmo parque, fora da fila, pode tirar a máscara? E nos eventos com aglomeração em ambientes abertos? Assim, não é possível ter um fluxo de informação adequado.
Recentemente, o aumento de casos e mortes por covid-19 tem sido documentado na Europa e nos Estados Unidos. Também, estão surgindo novas variantes do SARS-CoV-2, a exemplo da variante B.1.1.529 (OMS - Ômicron) - responsável pelo aumento de casos de covid-19 na África do Sul - e já disseminada em diversos países, com descrição de dois casos no Brasil de viajantes vindos desse mesmo país.
Com a proximidade das confraternizações de final de ano e preparativos para o carnaval, esta situação torna-se mais preocupante. Nestas datas festivas, aumentam as aglomerações tanto em ambientes fechados como abertos, bem como o fluxo de viajantes. A restrição de voos para países com aumento de casos de determinada variante, como o que está ocorrendo com a África do Sul e países vizinhos, pode retardar o problema, porém em um mundo globalizado, não é suficiente para conter a disseminação. É fundamental ampliar a testagem e a capacidade de sequenciamento das do SARS-CoV-2 e exigir comprovante de vacinação de todos os viajantes.
No Estado de São Paulo, após importantes esforços governamentais, estamos chegando próximos de imunizar 80% da população adulta com duas doses das vacinas para covid-19, sendo que na capital já ultrapassamos 90%. Porém, a exemplo de outras variantes como a delta, a resposta vacinal tem sido menor. Ainda é cedo para entender o impacto da variante B.1.1.529 na transmissibilidade na população vacinada e na evolução clínica.
A diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) reitera a necessidade de manter o distanciamento social, evitar aglomerações e utilizar rigorosamente máscara em ambientes coletivos fechados e abertos, além de higienizar as mãos após qualquer contato com outras pessoas ou com superfícies. Além disso, o controle rigoroso dos viajantes com exigência de vacinação e testes para covid-19 nos portos, aeroportos e fronteiras terrestres.
A flexibilização de medidas protetora difunde uma falsa imagem que a pandemia está resolvida e corremos o risco de novos picos da covid-19, com aumento significativo de casos e internações, com o agravante da atual sobrecarga dos serviços e trabalhadores da área da saúde que passam por falta de contratações e de verbas.
A proteção contra covid-19 é um ato de cidadania, com impactos coletivos. Cada um de nós é responsável pela saúde dos demais. Que continuemos a nos cuidar, para em futuro breve vencermos a pandemia.