A Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) torna pública a nossa enorme preocupação com o estado atual da Covid-19 no Brasil, e no Estado de São Paulo em particular. Há uma total desconexão da vida cotidiana com a realidade da pandemia. As novas variantes em circulação, a falta de um programa de vacinas efetivo e célere, o cansaço frente às medidas de prevenção e controle e o negacionismo enraizado em segmentos críticos da nossa Sociedade, sobretudo político e econômicos, configuram uma real ameaça à nossa vida.
As variantes do SARS-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, estão dotadas de mecanismos de disseminação mais efetivos, e existe o risco de que escapem da resposta imune prévia e/ou induzida por vacinas. Aproveitam-se da falta absoluta de distanciamento para expandir-se em todo o território brasileiro e no mundo. Resultam assim em mais contágio, reinfecções, adoecimentos e mortes, com o rápido esgotamento da nossa capacidade assistencial. Comprometem jovens, adultos e idosos, vulneráveis ou não. É ainda necessário enfatizar, não existem terapias eficazes contra o SARS-CoV-2. Pacientes graves têm alta taxa de morte e graves sequelas a despeito dos melhores recursos assistenciais. Que dirá em meio ao caos em que até oxigênio pode faltar? Na prevenção, uma vacinação lenta, em recortes populacionais,
está fadada a não resultar em proteção efetiva em tempo oportuno. A seguir esse ritmo, em que marcas expressivas de óbito e infectados ocorrem a intervalos cada vez mais breves, não podemos ter outro cenário em mente, se não, o colapso da saúde. E em meio ao caos não há vida, não há economia, não há nada além do que o incerto.
Existem experiências de sucesso e relatos suficientes na Literatura Científica para sabermos que esse cenário pode, e precisa, ser revertido. Porém, enquanto em fevereiro a incidência global de Covid-19 caiu pela metade no mundo, ela continua em aceleração no Brasil. Essa situação nos traz riscos de colapso, não só da saúde, mas de toda a sociedade. Economia e vida em sociedade são indissociáveis da saúde. E esta prioriza a vida.
As atuais medidas de controle da pandemia em vigor no PLANO SÃO PAULO mostramse insuficientes para reduzir a transmissão do vírus. Assim sendo, dirigimo-nos ao Excelentíssimo Governador e autoridades do Estado, solicitando políticas públicas que incluam maior rigidez no distanciamento social e controle de mobilidade populacional. Essas medidas
requerem restrições maiores a serviços não essenciais em Regiões do Estado sem acometimento crítico pela pandemia, e lockdown com toque de recolher prolongado (por exemplo, a partir de 20h00) naquelas que se encontram próximas ao colapso assistencial. Incluem também ampliação da oferta de testagem e maior velocidade nas estratégias vacinais.
À população, recomendamos o distanciamento (pelo menos 1,5 metros de uma pessoa a outra), uso correto e contínuo de máscaras bem ajustadas na face, higiene das mãos e – sobretudo – que se permaneça em casa o maior tempo possível.
Cada medida isoladamente (e especialmente o conjunto de todas) impacta a cadeia de transmissão ou controle. É responsabilidade de cada cidadão cumprir as normas para proteger-se e proteger as demais pessoas. Cabe ao Estado fiscalizar e prover condições cientificamente embasadas para o cumprimento dessas ações de prevenção.
Diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia