Posicionamento da Sociedade Paulista de Infectologia sobre os Programas de Prevenção e Tratamento da Infecção pelo HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis: não podemos recuar!

Posicionamento da Sociedade Paulista de Infectologia sobre os Programas de Prevenção e Tratamento da Infecção pelo HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis: não podemos recuar!
 
A Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) acompanha com atenção e preocupação as questões relativas à prevenção e ao tratamento da infecção pelo HIV e de outras doenças associadas. Em um cenário de boas notícias e importantes avanços científicos é fundamental, mais do que nunca, enfatizar que o único caminho possível é o da Ciência! 

Realizamos no dia 14 de fevereiro de 2019, no auditório do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o I Fórum de HIV e Doenças Associadas, cujo objetivo foi o de revisar as melhores evidências sobre prevenção e terapia, revisitando a linha do tempo dos avanços alcançados. Ao final, em um painel, debatemos as nossas preocupações e apontamos os caminhos a seguir (vídeo disponível em duas partes em: https://bit.ly/2UQHnmF e aqui: https://bit.ly/2HuxFjL)

Esse documento destaca os temas, em nosso entender, prioritários, e, para os quais não devemos recuar nas políticas implementadas ou em fase de implantação. Pelo contrário, precisamos avançar, porque ao contrário do senso comum, até de muitos profissionais de saúde, gestores e jornalistas, o HIV está longe de ser um problema resolvido e segue aumentando em novos casos, sobretudo, em populações mais vulneráveis.
 

Dessa forma, a Sociedade Paulista de Infectologia cumpre seu papel e alerta que: 

•   É louvável que a taxa de detecção da Aids no Brasil tenha reduzido em 15,7% entre 2012 e 2017.

•   Mas é preocupante que tenham sido notificados 7.882 gestantes com infecção pelo HIV e 119 casos de Aids em crianças menores de cinco anos em 2018. Além disso, 11.463 pessoas tiveram a doença como causa básica de óbito em 2017.
 
•   Preocupa observar que o impacto global favorável das ações de detecção e terapia ocorre de forma assimétrica nas unidades federativas do Brasil. Os estados do sudeste e do sul tendem a subestimar o crescimento da detecção e morte decorrentes do HIV, observada nos estados das demais regiões do país. 

•   A razão homem/mulher de infecção pelo HIV volta a crescer nos últimos anos, refletindo a maior vulnerabilidade masculina, inclusive, dos homens jovens até 29 anos de idade.

•   A exposição sexual cresce entre homens, sobretudo, em homens que fazem sexo com homens (HSH), ultrapassando a exposição heterossexual.

•   Se na população geral a prevalência do HIV no Brasil é menor que 0,5%, em populações vulneráveis ainda vivemos a expansão da epidemia, com aumento  significativo da prevalência. Travestis, transsexuais, HSH, trabalhadores do sexo e usuários de drogas seguem como importantes focos da nossa atenção. Dados do estado de São Paulo evidenciam que até 40% dos travestis e mulheres trans estão infectados pelo HIV e dos HSH e bissexuais chegam até 25%.

•   A população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) é vítima constante de ameaças, insultos e violência física na sociedade, levando, por exemplo, a um elevado índice de evasão escolar e todas as suas consequências. Fica evidente que precisamos de políticas educacionais inclusivas para essa população.

•   A elevada prevalência de infecção pelo HIV em populações de maior vulnerabilidade, evidencia que novas medidas para prevenção precisam ser implementadas de forma consistente e ampla. Além do preservativo, as políticas de governo devem estimular o uso de medicamentos antirretrovirais para o tratamento precoce e também para a terapia preventiva, naqueles com risco de exposição.

•   Diversos estudos apontam que em pessoas infectadas pelo HIV sob terapia efetiva, estando com carga viral indetectável, não há transmissão, independentemente do tipo de relação e se há ou não ejaculação.

•   Indetectável é igual a não transmissível. Este conceito ressalta a importância do diagnóstico rápido e tratamento de todos os indivíduos infectados pelo HIV, justificando a estratégia do tratamento antirretroviral como prevenção.

•   O uso continuado de terapia antirretroviral, em pessoas sem infecção pelo HIV, antes da exposição, é recomendado na prevenção (PrEP: Profilaxia Pré-Exposição) e deve ser ampliado e consolidado nas populações de maior vulnerabilidade.

•   A terapia antirretroviral iniciada em até 72 horas após a exposição de risco, e usada durante 28 dias, configura a PEP (Profilaxia Pós-Exposição), e precisa ser melhor divulgada para a população.

•   Estudos têm mostrado que não há aumento importante da incidência de ISTs atribuídos à PrEP, pela sensação de menor risco do HIV. Pelo contrário, entendemos que a PrEP pode criar oportunidades para realizar mais testes e melhor aconselhamento das ISTs.

•   A resistência bacteriana a penicilinas, cefalosporinas e macrolídeos do gonococo é preocupante e merece atenção.

•   A sífilis, entre as ISTs, é um desafio crescente (vivemos uma epidemia) e deve ser enfrentada. Por outro lado, o aumento do número de casos de sífilis congênita tem sido alarmante e, por isso, ressalta-se a importância de reforçar o conhecimento sobre diagnóstico, terapia e acesso ao tratamento, que deve ser uma prioridade.

•   Ampliar o acesso às vacinas para prevenção de ISTs, contra hepatite B e papilomavírus.

•   É inaceitável que ocorra desabastecimento recorrente dos antivirais de uso contínuo para terapia da hepatite B crônica. O risco de resistência, eventos adversos e exacerbação aguda são evidentes diante de tal situação.

•   A hepatite C caminha para o controle, porém as ações de diagnóstico, terapia e a oferta de esquemas de retratamento devem estar disponíveis no SUS.

 
A SPI segue atenta, apoiando as políticas afirmativas em prol da vida e na defesa do Sistema Único de Saúde e da Saúde Pública ampla e sustentável. Com esse documento, esperamos que todos os segmentos e pessoas que atuam no campo da prevenção e assistência à HIV, Aids e até hepatites virais encontrem subsídios e bons argumentos para pautar as suas ações ao longo do ano.

 
 Diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia
 São Paulo, 18 de março de 2019





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