Infectologista fala sobre vírus influenza e vacinação contra a doença em 2018

A influenza, ou gripe “verdadeira”, é uma doença causada pelos vírus denominados de influenza tipo A e tipo B, sendo que o primeiro é constituído por subtipos tendo em conta duas glicoproteínas de seu envoltório: hemaglutinina H e neuraminidase N. Os vírus humanos são H1, H2 e H3 e N1 e N2, propiciando várias combinações: influenza A H1N1, AH3N2, etc.
 
Frequentes mutações nos respectivos genes H e N dão origem a cepas virais que se sucedem periodicamente, respondendo pelas situações de epidemias sazonais, alternadamente no hemisfério norte e no sul. A gripe sazonal costuma ter seu pico nos meses mais frios do inverno, assim de dezembro/2017 a março/2018, os países do norte estão encerrando a sua sazonalidade. Os dados dos Estados Unidos são rapidamente disponibilizados, possibilitando imediato conhecimento do que acontece por lá.
 
Um ponto importante: a produção em escala industrial das vacinas potencialmente protetoras necessita um prazo de vários meses. A OMS monitoriza os vírus gripais por meio de uma rede mundial e a cada seis meses indica quais vírus influenza são os mais candidatos a responderem pela seguinte epidemia sazonal. Habitualmente são indicadas três ou quatro cepas virais, sendo duas do influenza A (AH1N1 e AH3N2) e uma ou ambas das linhagens do influenza B (Victoria e Yamagata).
 
Assim, foi feito para a recente gripe do hemisfério norte, seguindo a indicação dos seguintes vírus: A/H1N1/Michigan/2015, A/H3N2/Hong Kong/2014, B/Brisbane/2008 (B/Victoria) para a trivalente, com o acréscimo do B/Phuket/2013 (B/Yamagata) para a quadrivalente. Nas sazonalidades gripais do hemisfério norte em que o vírus influenza AH3N2 tem sido prevalente, as taxas de hospitalizações e mortes têm sido maiores comparativamente aos vírus AH1N1 ou B.
 
E agora vem a evidência: a cepa AH3N2 vacinal utilizada (A/Hong Kong/2014), embora em testes de laboratório tenha correspondido, na vida real teve uma performance precária, com proteção de apenas 25% dos vacinados. A busca de uma explicação tem revelado não se tratar de uma mutação clássica, mas sim, pela presença de uma ampla diversidade de “clades/subclades” do AH3N2, com predomínio atual da 3C.2a, uma variante para a qual a vacina não foi adequadamente efetiva, sendo o ônus maior para os idosos e as crianças de baixa idade.
 
Não sem razão, o painel da OMS alterou a composição das vacinas que agora estarão em uso no hemisfério sul, estação sazonal de 2018 e, também, no norte em 2018-2019, substituindo o A/H3N2/Hong Kong/2014 pelo A/H3N2/Singapore/2016, que exibe melhor performance em laboratório e para o qual almeja-se uma melhor efetividade na vida real – é o que se espera e que venha a ser verificado na prática.
 
Nossa estação sazonal 2018 para o hemisfério sul está a caminho, não sendo obrigatório que repita o então sucedido no norte, sendo, porém uma probabilidade viável. Assim, fica a expectativa de que a efetividade vacinal do A/H3N2/Singapore suplante bastante a de seu antecessor A/H3N2/Hong Kong.
 
As crianças de seis meses a cinco anos de idade, os idosos, as pessoas com certas doenças crônicas, as gestantes e os profissionais da saúde fazem parte do grupo prioritário de vacinação da gripe, mas em geral qualquer pessoa acima de seis meses de idade pode ser vacinada.
 
Os sintomas do vírus H3N2 são semelhantes: febre, tosse, mialgias, cefaleia, dor de garganta e cansaço, podendo, nos casos mais graves, evoluir para uma pneumonia viral ou bacteriana. Não sem razão, as autoridades nos EUA salientaram o uso precoce de antiviral, frente a uma suspeita compatível em indivíduos de maior risco de complicações, o que também está na pauta de nossas recomendações para 2018. Preventivamente, algumas práticas devem ser lembradas: evitar locais pouco arejados e realizar frequente higienização das mãos são alguns exemplos (o vírus influenza é de transmissão respiratória, mas contato com objetos contaminados também pode ser meio de transmissão).
 
Fonte: João Silva de Mendonça é médico infectologista e diretor do Serviço de Infectologia do Hospital do Servidor Público Estadual/SP





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