Segundo estudo independente, divulgado recentemente em Botswuana, na África, há uma possível associação entre o uso do antirretroviral dolutegravir, utilizado para o controle do HIV na gestação, e um defeito no tubo neural no feto, estrutura responsável por dar origem à medula espinhal e ao cérebro da criança.
O estudo avaliou 426 mulheres que tomavam o medicamento para evitar a transmissão do HIV ao feto durante a gravidez. Geralmente, a má-formação nessa estrutura acontece em 0,1% dos nascidos vivos, mas a pesquisa identificou um aumento para 0,9% da prevalência da anomalia, que fez com que os responsáveis pelo estudo alertassem a Organização Mundial de Saúde.
Segundo a médica infectologista e integrante da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia, Lucy Vasconcelos, existe uma questão importante que deve ser levantada sobre este assunto. “A PEP (profilaxia pós-exposição - medicamentos antirretrovirais para prevenir a infecção pelo HIV) no Brasil, também é recomendado uso do dolutegravir, gerando o questionamento de que não seria seguro utilizar esse medicamento em mulheres em idade fértil. Aguardamos uma posição oficial do Ministério da Saúde para esse público”, explica a especialista.
Devido à esses novos dados, as mulheres que vivem com HIV, que estão no começo do tratamento antirretroviral e que pretendem engravidar ou já estão grávidas devem buscar imediatamente uma consulta médica para substituição desse antirretroviral no seu esquema de tratamento. Já para aquelas que vivem com o vírus, estão em idade fértil, têm indicação para o dolutegravir e não querem engravidar devem ter assegurado o uso de método contraceptivo.
“Por aqui o medicamento está sendo utilizado há um ano e ainda não temos nenhum dado preocupante sobre o seu uso em gestantes brasileiras que tenha sido divulgado pelo Ministério da Saúde. Entretanto, até que tudo seja definitivamente esclarecido, o recomendado é de não usar o medicamento no primeiro trimestre da gestação", finaliza o médico infectologista e coordenador científico da Sociedade Paulista de Infectologia, Esper Kallas.
As recomendações sobre o uso do dolutegravir por mulheres em idade fértil já foram incluídas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos e também de no PCDT para Prevenção da Transmissão Vertical.
Estudo completo http://www.ema.europa
Nota Informativa nº 10/2018 - DIAHV/SVS/MS http://www.aids.