A Tuberculose e o tuberculoso

No dia 24 de março lembramos do Dia Mundial de Combate à Tuberculose, data que foi criada em 1982 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em reverência aos 100 anos do descobrimento do bacilo causador da patologia, pelo médico Robert Koch. Acredita-se que o bacilo de Koch seja anterior ao próprio homem, sucedendo formas ainda mais elementares de vida microscópica e que encontrou nos pulmões um ambiente favorável à sua sobrevivência. A data teve como objetivo alertar a população para a prevenção e o tratamento desta doença infectocontagiosa – também conhecida como tísica – de transmissão aerógena, que afeta os pulmões, de regra assume evolução crônica, e pode ser fatal.

O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 82% do total de episódios de Tuberculose no mundo. No ano de 2017, foram notificados cerca de 69,5mil casos novos. Conforme dados do Ministério da Saúde, a doenca ainda mata cerca de 4,7 mil pessoas anualmente em nosso país, e é a principal causa de morte em pacientes com aids.

Apesar de curável e com fármacos disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com números preocupantes, a patologia ainda permanece como um grave problema de saúde pública. Quem são os tuberculosos, como vivem, quais as comorbidades, porque muitos abandonam o tratamento, são alguns dos aspectos que devem ser considerados para o sucesso do tratamento e a busca pela erradicação da doença. São importantes estratégias para o combate à Tuberculose, o conhecimento e atenção as populações vulneráveis, especialmente na cidade de São Paulo os indivíduos que vivem em situação de rua e os privados de liberdade, melhoria das condições de vida, fortalecimento dos serviços de saúde, tratamento diretamente observado em ampla escala, diagnóstico e tratamento da Tuberculose latente e o diagnóstico e tratamento da doença multirresistente.

Entre as estratégias conhecidas e recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o controle da Tuberculose estão o diagnóstico da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis - conhecida como Tuberculose latente - e o tratamento medicamentoso para os indivíduos infectados que apresentam maior risco de progressão para doença ativa. Atualmente, no Brasil o tratamento da Tuberculose latente é feito com três comprimidos diários de isoniazida por seis a nove meses. Nesse sentido, recentemente, o Ministério da Saúde divulgou que a partir de maio iniciará uma pesquisa em vários estados, desenvolvida pela Universidade Federal do Espírito Santo, com apoio de vários pesquisadores, para implantação na rede pública de saúde de uma nova apresentação da isoniazida em comprimidos de 300 mg, substituindo a isoniazida de 100mg. A ação tem como objetivo conhecer o processo de utilização do fármaco, sua oferta em tempo oportuno aos serviços de saúde e garantir a segurança do paciente com a nova apresentação do medicamento. Essa nova apresentação além de facilitar o tratamento da Tuberculose latente beneficiará aqueles em tratamentos especiais da doença e que utilizam muitos comprimidos por dia, garantindo a adesão ao tratamento e reduzindo a taxa de abandono. A previsão é que o estudo inicie em maio e a distribuição dos fármacos aos estados para utilização na rede pública no segundo semestre.

Já o problema da Tuberculose multirresistente é uma ameaça global ao controle da doença, não deve ser visto como um problema de alguns países, pois o fenômeno migratório fomenta a transmissão da doença em todo mundo. A Tuberculose multirresistente representa um grande desafio para a sociedade, para os serviços de saúde e para a economia (alto custo do tratamento). Já existem casos intratáveis da doença levantando questões éticas, médico-legais e relembrando a era pré-antibiótica, tempo em que a única coisa a fazer era tocar um tango argentino. Entre outros problemas, o desconhecimento da realidade da Tuberculose multirresistente no mundo é fruto da escassez de laboratórios especializados para realização dos testes de suscetibilidade aos fármacos.

O Brasil tem realizado esforços para garantir testagem, acesso e tratamento a todos os afetados pela doença. Em 2014, o Ministério da Saúde implantou no país a Rede de Teste Rápido para a Tuberculose, que utiliza a técnica de biologia molecular – PCR em tempo real – esse teste detecta em duas horas a presença do bacilo e identifica a possibilidade de resistência a rifampicina, fármaco importante para o tratamento da doença.

Os avanços científicos como o sequenciamento completo do genoma da micobactéria poderão  esclarecer questões sobre a transmissão, patogênese e diagnóstico da Tuberculose, mas não nos ensinará a olhar, entender e tratar adequadamente o tuberculoso e as questões sociais envolvidas. É necessário e premente o fortalecimento dos sistemas de saúde, especialmente da atenção primária, investimento em novas vacinas, fornecimento constante de insumos para o diagnóstico, redução da pobreza e vontade política para reduzir a Tuberculose, importante e negligenciado problema de saúde pública mundial.

Giselle Burlamaqui Klautau - Professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Infectologista do IIER e da Santa Casa de São Paulo.





Veja todas Notícias da SPI

14º Congresso Paulista de Infectologia